Indústria de ônibus pode bater recorde histórico de produção em 2013
As estimativas são positivas. De acordo com o presidente da FABUS e vice-presidente da Fiesp, em entrevista exclusiva ao Canal do Ônibus / Blog Ponto de Ônibus, José Antônio Fernandes Martins, indústria nacional já começa com uma carteira de 12 mil ônibus
ADAMO BAZANI – CBN
A indústria brasileira de ônibus pode bater mais um recorde histórico em 2013, superando o bom desempenho de 2011, quando foram feitos mais de 31 mil veículos de transportes coletivos.
E a melhor notícia para os fabricantes é que boa parte desses ônibus já está encomendada. O ano começa com uma carteira de encomendas de mais de 12 mil veículos.
Boa parte destes números positivos para a produção de ônibus será resultado de investimentos públicos diretos.
Quem revela é José Antônio Fernandes Martins, presidente da FABUS – Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, que reúne as encarroçadoras, vice-presidente da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, vice-presidente da Fiergs – Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, executivo da fábrica de carrocerias Marcopolo e um dos fundadores da Volare, e membro do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp e do IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.
Martins atendeu ao Canal do Ônibus e Blog Ponto de Ônibus com exclusividade nesta quarta-feira, dia 06 de março de 2013, na sede da Fiesp, na Avenida Paulista, em São Paulo.
Os números positivos referentes às licitações vão trazer um impacto maior paras as fabricantes, já que as compras púbicas se dão de maneira direta. Revendedores, concessionárias e representantes se beneficiam mais pela venda aos frotistas e autônomos, que também deve crescer.
Muitas regiões e sistemas precisam de modernização dos veículos. Como exemplo, Martins citou algumas regiões que necessitam de renovação de frota, como os ônibus intermunicipais do ABC Paulista, cujas idades chegam a 15 anos de uso, e os ônibus de linhas interestaduais e internacionais que possuem idade média de 9,8 anos. A licitação da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres, que deveria estar mais avançada, prevê idade máxima de 10 anos de uso e média de 5 anos.
Martins reconhece que a maior ação do Governo Federal em prol da mobilidade urbana tem influência de eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas de 2016, mas não acredita que depois destes eventos, os investimentos no setor caiam, isso pela exigência da população e pelos ganhos de competitividade que a mobilidade urbana traz para todo o País, inclusive para o setor industrial.
“Está se criando uma cultura de investimentos, uma cultura da mobilidade, a cultura de se poder viver num centro urbano de maneira civilizada. Hoje pessoas em São Paulo perdem quatro horas por dia em deslocamentos, as pessoas perdem um mês por ano viajando. Isso é uma desumanidade e o povo não vai agüentar mais”
O executivo diz que hoje não só as cidades e as pessoas, mas a indústria sofre muito pela falta de transporte coletivo adequado. São funcionários que não rendem porque já chegam cansados ao serviço, atrasados, e também o trânsito dificulta o escoamento de cargas. Com mais ônibus nas ruas e menos carros de passeio, será possível aproveitar melhor o espaço urbano e aumentar a velocidade comercial também dos veículos de carga.
Segundo Martins, a Mobilidade Urbana é ponto decisivo na competitividade mundial de qualquer indústria. Uma cidade com trânsito difícil significa mais custo de transportes, que por sua vez influencia no preço final dos produtos e no seu poder de concorrência no mercado internacional.
José Antônio Fernandes Martins concorda com projeção feita pelo presidente da Empresa de Planejamento e Logística, Bernardo Figueiredo, de que a infraestrutura no Brasil precisa entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões de investimentos até 2016.
Quanto a uma possível invasão de ônibus chineses no Brasil, a indústria brasileira diz que está preparada pela qualidade de seus produtos. Mas se mesmo assim, a presença de ônibus asiáticos ameaçar a concorrência dos veículos nacionais, há táticas comerciais, como a indústria brasileira importar os ônibus que ela mesmo produz na Ásia.
“E além de tudo nós temos estratégias de proteção. Nós da Marcopolo, por exemplo, temos uma fábrica grande na Índia, em parceria com a Tata, onde produzimos 15 mil ônibus, temos também uma fábrica na China e que se houver uma penetração de chineses exagerada em nosso território por cobrarem preços mais baixos, vamos mandar para cá os ônibus que produzimos lá que é o mesmo preço que dos ônibus deles. Vamos importar os ônibus indianos e chineses das nossas fábricas, mas vamos mante4r o nosso mercado aqui sem sermos destruídos pelos chineses.”
Segue a íntegra da entrevista:
Adamo Bazani: Quais são as perspectivas para a indústria brasileira de ônibus para o ano de 2013, tanto em relação aos negócios como na questão de mobilidade urbana?
José Antônio Fernandes Martins: Antes é necessário deixar claro o seguinte aspecto. Muito se fala em mobilidade no Brasil e as razões pelas quais ela se deteriorou. A última planilha do Ministério das Cidades mostra que hoje nós temos um número impressionante de 73 milhões e 700 mil veículos entre carros, caminhões, comerciais leves, ônibus, motos, etc. Este número do Ministério das Cidades é de julho de 2012. Dez anos atrás, em 2002, este número era exatamente de 35 milhões de veículos. De 35 milhões para mais de 73 milhões significa que houve um acréscimo de 110% de número de veículos que entraram em nossa infraestrutura. E aí nós perguntamos. Nestes 10 anos, se os veículos subiram 110% em quantidade, quanto que nossa infraestrutura melhorou? Eu arriscaria dizer que não mais de 10%. Esse descompasso fez com que os congestionamentos aumentassem, aumentasse o número de acidentes, aumentasse a contaminação ambiental. Toda essa falta de mobilidade faz com que o país ande devagar, prejudique a nossa competitividade, liquide com nossa produtividade e faz com que as indústrias acabem sofrendo impactos muito violentos na sua produção. A nossa indústria de transformação ela encolheu 2,7% no ano de 2012, principalmente prejudicada pela “invasão” dos produtos chineses.
No ano de 2011, o déficit entre importação e exportação estava em torno de US$ 92 bilhões, que nós compramos mais que vendemos. Este ano, de acordo com a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), nós devemos chegar a US$ 105 bilhões de importações acima das exportações. São números que mostram os empregos que nós geramos lá fora.
Essa falta de mobilidade que retira nossa competitividade tem de ser solucionada pelo Governo. O Governo então vendo que isso tudo estava esmagando o nosso PIB, que no ano passado foi ridículo, de 0,9%, lançou vários planos para evitar perdas maiores. Lançou o Plano Brasil Maior, no qual está incluída a desoneração da folha de pagamento para 41 setores da economia, dos quais o último foi o setor de construção civil, onde também estamos nós fabricantes de ônibus e trens e onde estão as empresas operadoras de transporte coletivo. Esse plano vai possibilitar uma situação melhor para o segmento de transportes. Depois surgiu o PSI 4 – Programa de sustentação do Investimento, do Finame, reduzindo os juros que eram de 10%, para 7,5%, depois baixou para 5,5% e de 5,5% para 2,5% no ano passado. Juros de 2,5% até dezembro do ano passado eram juros negativos se for levar em conta que nossa inflação quase chegou a 6%, nós temos um “juro negativo” em torno de 3,5%. Este ano aumentou um pouquinho, passou de 2,5% para 3 %, mas ainda é uma taxa de juro altamente confortável. O Governo Federal ainda colocou vários incentivos de financiamento para a exportação, tanto que para o setor ônibus, esta exportação já deu sinais extraordinários de melhora já no ano passado, aumentando a exportação de 2011 para 2012 para 5,2%.
Além disso, foi criado ainda o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – Mobilidade de R$ 32,8 bilhões, pelo qual o Governo está investindo em infraestrutura viária urbana, como corredores de ônibus, vias segregadas, plataformas de embarque, sistema de sinalização, tudo isso num sentido de fazer com que o trânsito na cidade adquira uma maior velocidade comercial. Hoje nós aqui em São Paulo, quando tudo vai bem, a média de velocidade é de 9 quilômetros por hora. Se você caminhar ligeiro, caminha mais rápido que o trânsito. Numa via segregada para ônibus como tem na Colômbia (Transmilênio, de Bogotá), como tem em Curitiba, a velocidade comercial em média pode chegar a 25 km/h, 28 km/h até 30 km/h. Nesta velocidade comercial, é possível criar uma atratividade para as pessoas deixarem o carro em casa em andar de ônibus, trocar o transporte individual pelo transporte público, pois as pessoas querem chegar rapidamente ao destino, não importa como. Então, esse PAC Mobilidade está investindo na infraestrutura viária, no sistema de metrôs, no sistema de VLT – Veículo Leve Sobre Trilhos, no BRT – Bus Rapid Transit , que vai casar a oferta de ônibus modernos e maiores pela indústria com a infraestrutura necessária para estes veículos rodarem. Depois do PAC da Mobilidade, foi lançado em fins de junho pela presidenta Dilma Rousseff, o PAC Equipamentos, onde foi estabelecida compra de 8 mil 570 ônibus escolares, todos financiados pelo FNDE – Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação. Só o PAC Equipamentos faria com que o mercado de ônibus de 2012 fechasse tão bem quanto o mercado de 2011 que foi um recorde. Só que como esse PAC Equipamentos foi publicado no final de junho, e começou a operar em meados de julho, as montadoras e as encarroçadoras de ônibus, não tiveram condições de montar os 8 mil 570 ônibus. Foram feitos no ano passado cerca de 4 mil 500 ônibus escolares e ficou o restante de quase 4 mil ônibus que não puderam ser produzidos. E por isso, pela falta desses quase quatro mil, o nosso mercado interno fechou 2012 com déficit de produção de 10% em média. Chegou a 28 mil 600 ônibus. Se tivéssemos colocado mais 3 mil 500 ou 4 mil ônibus, que não foram produzidos mas foram encomendados pelo PAC Equipamentos, nós faríamos em 2012 uma produção maior que o recorde de 2011., mesmo com todas as dificuldades de 2012, como a adaptação do empresariado para a tecnologia de redução de poluição Euro V e o fraco desempenho da economia nacional.
Esta quantidade que não foi produzida agora será contabilizada para 2013. E ainda no final, em novembro de 2012, a presidenta da República através do FNDE lançou mais uma licitação de 8 mil ônibus para o Programa Caminho da Escola Rural que serão entregues para este ano de 2013. Em 2013, já iniciamos com uma carteira de 4 mil que sobrou do ano anterior mais 8 mil do Caminho da Escola Rural, como resultado são 12 mil ônibus, além de 800 ônibus para transporte de pessoas com necessidades especiais. Num mercado de 31 mil ônibus, já temos aí um caminho bom pela frente. Nós esperamos que 2013, com a manutenção do PSI 4 (Programa de Sustentação do Investimento), com a existência da desoneração das fabricantes e das empresas operadoras (cujo impacto deve ser muito grande pela quantidade de pessoas que empregam), tudo isso vai favorecer para que as empresas partam para comprar mais ônibus.
ADAMO BAZANI: E muitas cidades precisam dessa renovação e não precisa ir longe da capital para encontrar frotas velhas, como dos ônibus intermunicipais do ABC Paulista.
JOSÉ ANTÔNIO FERREIRA MARTINS: Tem ônibus nessa região com idades entre 12 e 15 anos. E não é só o segmento de urbanos. Se formos ver os ônibus interestaduais e internacionais, a idade da frota é de 9,8 anos de idade. As ações governamentais e da indústria estão sendo feitas de uma maneira que a gente possa melhorar todo esse sistema. O Governo criou agora, paralelamente a isso, o PAC Ferrovias e Rodovias, com 10 mil quilômetros de ferrovia e 7,5 mil quilômetros de rodovia, nessas rodovias fala-se na duplicação e concessão de novos modais, o que vai fazer com que as rodovias fiquem melhores, mais bem pavimentadas, vão dar mais velocidade comercial e com isso, haverá benefício no transporte coletivo também.
Este PAC Ferrovias e Rodovias que vai começar a partir do final deste ano, com mais as outras ações em andamento e o custo menor da energia elétrica vai reduzir o nosso custo geral e fortalecer nosso poder de competição. As alterações no câmbio também nos dão mais margem de competitividade.
Com menos custos, nossos clientes, os operadores de ônibus urbanos e rodoviários, também terão condições de comprar mais. O valor da desoneração vai poder ser empregado na compra e na remodelação da frota, que era uma coisa que eles precisavam, mas não esperavam.
ADAMO BAZANI: O que percebemos é que nunca o Governo Federal se envolveu tanto na questão da mobilidade urbana, setor há muito tempo esquecido por esta esfera de poder, cuja responsabilidade caía somente sobre as costas dos Estados e municípios. Claro que parte desse envolvimento se deu depois que o Brasil foi anunciado como sede de eventos internacionais que exigem modernização nas cidades, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Há o risco de depois de estes eventos passarem, a situação se reverter e diminuir novamente o compromisso do Governo Federal com a mobilidade urbana?
JOSÉ ANTÔNIO FERNANDES MARTINS: Acho que existe uma lei básica no mundo dos negócios de que o desenvolvimento chama desenvolvimento e retração chama retração. Na medida que nós criarmos uma infraestrutura para termos melhor mobilidade, o povo não vai aceitar uma redução dessa mobilidade e o governo não vai suportar com que a competitividade do sistema diminua porque se parou de investir. Os investimentos em mobilidade começam e não têm como parar. É uma escada que se vai subindo e não tem como descer. Se descer, destrói com todo o sistema urbano, com todo o sistema rodoviário. Eu vejo que todos estes investimentos que o Governo tá fazendo são apenas um princípio. O próprio presidente da EPL – Empresa de Planejamento e Logística, Bernardo Figueiredo, disse que as necessidades de investimentos em infraestrutura no Brasil hoje até 2016 seriam entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões. Acredito que o Governo vai investir nisso, o Governo vai perseguir estes números. Está se criando uma cultura de investimentos, uma cultura da mobilidade, a cultura de se poder viver num centro urbano de maneira civilizada. Hoje pessoas em São Paulo perdem quatro horas por dia em deslocamentos, a pessoa perde um mês por ano viajando. Isso é uma desumanidade e o povo não vai agüentar mais. Com estes investimentos, o Governo vai aumentar as velocidades comerciais, diminuir os congestionamentos, reduzir os acidentes, vai reduzir substancialmente a contaminação ambiental, o modo de vida vai melhorar em termos de saúde, stress e satisfação da população.
ADAMO BAZANI – A Mobilidade exige a participação de diversos agentes, como governos em diversas esferas, as empresas transportadoras e até a própria população. E a indústria de ônibus, pode ajudar em que nessa questão de mobilidade urbana?
JOSÉ ANTÔNIO FERNANDES MARTINS: A indústria brasileira de transporte por ônibus está preparada, não é de agora, temos anos e anos de luta e experiência que iniciamos no sentido de melhorar a qualidade, a performance, o conforto, resistência e até o design. Nosso produto ônibus é um dos melhores do mundo. Não ficamos devendo nada aos produtos europeus. Quando eu comecei a trabalhar com ônibus, há 47 anos, a gente se extasiava com o design e a qualidade dos ônibus da Alemanha, da Holanda, da Bélgica, na França. Hoje não mais. Hoje tem muita gente olhando os nossos produtos que têm qualidade e são feitos dentro de normas de redução de emissão de poluentes, segurança, durabilidade e conforto. Nossos ônibus estão enquadrados entre as melhores normas mundiais.
ADAMO BAZANI : Sabemos entretanto, que apesar de investimentos do Governo Federal e dos locais, ainda o Brasil convive com a realidade de estradas de terra, ruas esburacadas e pavimentação inadequada até mesmo em grandes cidades. Por conta disso, a indústria brasileira ainda tem de fazer produtos robustos, como ônibus de motor dianteiro. Como oferecer o maior conforto possível aos passageiros e motoristas nestes veículos mais rústicos?
JOSÉ ANTÔNIO FERNANDES MARTINS: O veículo robusto não tem nada a ver com conforto que é interno. Claro que o veículo robusto fica prejudicado no design, mas hoje em termos de conforto, segurança, itens como ar condicionado, ele funciona perfeitamente. Não podemos nos fixar apenas nos produtos de luxo. Sabemos que o Brasil é um país enorme. No Norte e Nordeste ainda temos muitas estradas de terra e nossos ônibus têm condições de prestar serviços nestes locais. Essa flexibilidade é que chama atenção no mercado internacional. A Europa não consegue fazer como nós veículos confortáveis e robustos ao mesmo tempo. Europeu não sabe o que é buraco. Nós produzimos um veículo que agüenta chuvas e trovoadas. Nosso ônibus é um veículo excelente para estradas ruins e estradas boas.
ADAMO BAZANI: A indústria de ônibus brasileira se prepara para uma eventual entrada de ônibus chineses no País?
JOSÉ ANTÔNIO FERNANDES MARTINS: Nós estamos preparados hoje para atender ao mercado brasileiro dentro das nossas necessidades, sabendo como os chineses atuam. Os chineses têm preços muito mais baixos do que os nossos, mas em termos de qualidade, resistência e performance, os nossos ônibus são muito melhores. E além de tudo nós temos estratégias de proteção. Nós da Marcopolo temos uma fábrica grande na Índia, em parceria com a Tata, onde produzimos 15 mil ônibus, temos também uma fábrica na China e que se houver uma penetração de chineses exagerada em nosso território por cobrarem preços mais baixos, vamos mandar para cá os ônibus que produzimos lá que é o mesmo preço que dos ônibus deles. Vamos importar os ônibus indianos e chineses das nossas fábricas, mas vamos mante4r o nosso mercado aqui sem sermos destruídos pelos chineses.
As estimativas são positivas. De acordo com o presidente da FABUS e vice-presidente da Fiesp, em entrevista exclusiva ao Canal do Ônibus / Blog Ponto de Ônibus, José Antônio Fernandes Martins, indústria nacional já começa com uma carteira de 12 mil ônibus
ADAMO BAZANI – CBN
A indústria brasileira de ônibus pode bater mais um recorde histórico em 2013, superando o bom desempenho de 2011, quando foram feitos mais de 31 mil veículos de transportes coletivos.
E a melhor notícia para os fabricantes é que boa parte desses ônibus já está encomendada. O ano começa com uma carteira de encomendas de mais de 12 mil veículos.
Boa parte destes números positivos para a produção de ônibus será resultado de investimentos públicos diretos.
Quem revela é José Antônio Fernandes Martins, presidente da FABUS – Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, que reúne as encarroçadoras, vice-presidente da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, vice-presidente da Fiergs – Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, executivo da fábrica de carrocerias Marcopolo e um dos fundadores da Volare, e membro do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp e do IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.
Martins atendeu ao Canal do Ônibus e Blog Ponto de Ônibus com exclusividade nesta quarta-feira, dia 06 de março de 2013, na sede da Fiesp, na Avenida Paulista, em São Paulo.
Os números positivos referentes às licitações vão trazer um impacto maior paras as fabricantes, já que as compras púbicas se dão de maneira direta. Revendedores, concessionárias e representantes se beneficiam mais pela venda aos frotistas e autônomos, que também deve crescer.
Muitas regiões e sistemas precisam de modernização dos veículos. Como exemplo, Martins citou algumas regiões que necessitam de renovação de frota, como os ônibus intermunicipais do ABC Paulista, cujas idades chegam a 15 anos de uso, e os ônibus de linhas interestaduais e internacionais que possuem idade média de 9,8 anos. A licitação da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres, que deveria estar mais avançada, prevê idade máxima de 10 anos de uso e média de 5 anos.
Martins reconhece que a maior ação do Governo Federal em prol da mobilidade urbana tem influência de eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas de 2016, mas não acredita que depois destes eventos, os investimentos no setor caiam, isso pela exigência da população e pelos ganhos de competitividade que a mobilidade urbana traz para todo o País, inclusive para o setor industrial.
“Está se criando uma cultura de investimentos, uma cultura da mobilidade, a cultura de se poder viver num centro urbano de maneira civilizada. Hoje pessoas em São Paulo perdem quatro horas por dia em deslocamentos, as pessoas perdem um mês por ano viajando. Isso é uma desumanidade e o povo não vai agüentar mais”
O executivo diz que hoje não só as cidades e as pessoas, mas a indústria sofre muito pela falta de transporte coletivo adequado. São funcionários que não rendem porque já chegam cansados ao serviço, atrasados, e também o trânsito dificulta o escoamento de cargas. Com mais ônibus nas ruas e menos carros de passeio, será possível aproveitar melhor o espaço urbano e aumentar a velocidade comercial também dos veículos de carga.
Segundo Martins, a Mobilidade Urbana é ponto decisivo na competitividade mundial de qualquer indústria. Uma cidade com trânsito difícil significa mais custo de transportes, que por sua vez influencia no preço final dos produtos e no seu poder de concorrência no mercado internacional.
José Antônio Fernandes Martins concorda com projeção feita pelo presidente da Empresa de Planejamento e Logística, Bernardo Figueiredo, de que a infraestrutura no Brasil precisa entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões de investimentos até 2016.
Quanto a uma possível invasão de ônibus chineses no Brasil, a indústria brasileira diz que está preparada pela qualidade de seus produtos. Mas se mesmo assim, a presença de ônibus asiáticos ameaçar a concorrência dos veículos nacionais, há táticas comerciais, como a indústria brasileira importar os ônibus que ela mesmo produz na Ásia.
“E além de tudo nós temos estratégias de proteção. Nós da Marcopolo, por exemplo, temos uma fábrica grande na Índia, em parceria com a Tata, onde produzimos 15 mil ônibus, temos também uma fábrica na China e que se houver uma penetração de chineses exagerada em nosso território por cobrarem preços mais baixos, vamos mandar para cá os ônibus que produzimos lá que é o mesmo preço que dos ônibus deles. Vamos importar os ônibus indianos e chineses das nossas fábricas, mas vamos mante4r o nosso mercado aqui sem sermos destruídos pelos chineses.”
Segue a íntegra da entrevista:
Adamo Bazani: Quais são as perspectivas para a indústria brasileira de ônibus para o ano de 2013, tanto em relação aos negócios como na questão de mobilidade urbana?
José Antônio Fernandes Martins: Antes é necessário deixar claro o seguinte aspecto. Muito se fala em mobilidade no Brasil e as razões pelas quais ela se deteriorou. A última planilha do Ministério das Cidades mostra que hoje nós temos um número impressionante de 73 milhões e 700 mil veículos entre carros, caminhões, comerciais leves, ônibus, motos, etc. Este número do Ministério das Cidades é de julho de 2012. Dez anos atrás, em 2002, este número era exatamente de 35 milhões de veículos. De 35 milhões para mais de 73 milhões significa que houve um acréscimo de 110% de número de veículos que entraram em nossa infraestrutura. E aí nós perguntamos. Nestes 10 anos, se os veículos subiram 110% em quantidade, quanto que nossa infraestrutura melhorou? Eu arriscaria dizer que não mais de 10%. Esse descompasso fez com que os congestionamentos aumentassem, aumentasse o número de acidentes, aumentasse a contaminação ambiental. Toda essa falta de mobilidade faz com que o país ande devagar, prejudique a nossa competitividade, liquide com nossa produtividade e faz com que as indústrias acabem sofrendo impactos muito violentos na sua produção. A nossa indústria de transformação ela encolheu 2,7% no ano de 2012, principalmente prejudicada pela “invasão” dos produtos chineses.
No ano de 2011, o déficit entre importação e exportação estava em torno de US$ 92 bilhões, que nós compramos mais que vendemos. Este ano, de acordo com a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), nós devemos chegar a US$ 105 bilhões de importações acima das exportações. São números que mostram os empregos que nós geramos lá fora.
Essa falta de mobilidade que retira nossa competitividade tem de ser solucionada pelo Governo. O Governo então vendo que isso tudo estava esmagando o nosso PIB, que no ano passado foi ridículo, de 0,9%, lançou vários planos para evitar perdas maiores. Lançou o Plano Brasil Maior, no qual está incluída a desoneração da folha de pagamento para 41 setores da economia, dos quais o último foi o setor de construção civil, onde também estamos nós fabricantes de ônibus e trens e onde estão as empresas operadoras de transporte coletivo. Esse plano vai possibilitar uma situação melhor para o segmento de transportes. Depois surgiu o PSI 4 – Programa de sustentação do Investimento, do Finame, reduzindo os juros que eram de 10%, para 7,5%, depois baixou para 5,5% e de 5,5% para 2,5% no ano passado. Juros de 2,5% até dezembro do ano passado eram juros negativos se for levar em conta que nossa inflação quase chegou a 6%, nós temos um “juro negativo” em torno de 3,5%. Este ano aumentou um pouquinho, passou de 2,5% para 3 %, mas ainda é uma taxa de juro altamente confortável. O Governo Federal ainda colocou vários incentivos de financiamento para a exportação, tanto que para o setor ônibus, esta exportação já deu sinais extraordinários de melhora já no ano passado, aumentando a exportação de 2011 para 2012 para 5,2%.
Além disso, foi criado ainda o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – Mobilidade de R$ 32,8 bilhões, pelo qual o Governo está investindo em infraestrutura viária urbana, como corredores de ônibus, vias segregadas, plataformas de embarque, sistema de sinalização, tudo isso num sentido de fazer com que o trânsito na cidade adquira uma maior velocidade comercial. Hoje nós aqui em São Paulo, quando tudo vai bem, a média de velocidade é de 9 quilômetros por hora. Se você caminhar ligeiro, caminha mais rápido que o trânsito. Numa via segregada para ônibus como tem na Colômbia (Transmilênio, de Bogotá), como tem em Curitiba, a velocidade comercial em média pode chegar a 25 km/h, 28 km/h até 30 km/h. Nesta velocidade comercial, é possível criar uma atratividade para as pessoas deixarem o carro em casa em andar de ônibus, trocar o transporte individual pelo transporte público, pois as pessoas querem chegar rapidamente ao destino, não importa como. Então, esse PAC Mobilidade está investindo na infraestrutura viária, no sistema de metrôs, no sistema de VLT – Veículo Leve Sobre Trilhos, no BRT – Bus Rapid Transit , que vai casar a oferta de ônibus modernos e maiores pela indústria com a infraestrutura necessária para estes veículos rodarem. Depois do PAC da Mobilidade, foi lançado em fins de junho pela presidenta Dilma Rousseff, o PAC Equipamentos, onde foi estabelecida compra de 8 mil 570 ônibus escolares, todos financiados pelo FNDE – Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação. Só o PAC Equipamentos faria com que o mercado de ônibus de 2012 fechasse tão bem quanto o mercado de 2011 que foi um recorde. Só que como esse PAC Equipamentos foi publicado no final de junho, e começou a operar em meados de julho, as montadoras e as encarroçadoras de ônibus, não tiveram condições de montar os 8 mil 570 ônibus. Foram feitos no ano passado cerca de 4 mil 500 ônibus escolares e ficou o restante de quase 4 mil ônibus que não puderam ser produzidos. E por isso, pela falta desses quase quatro mil, o nosso mercado interno fechou 2012 com déficit de produção de 10% em média. Chegou a 28 mil 600 ônibus. Se tivéssemos colocado mais 3 mil 500 ou 4 mil ônibus, que não foram produzidos mas foram encomendados pelo PAC Equipamentos, nós faríamos em 2012 uma produção maior que o recorde de 2011., mesmo com todas as dificuldades de 2012, como a adaptação do empresariado para a tecnologia de redução de poluição Euro V e o fraco desempenho da economia nacional.
Esta quantidade que não foi produzida agora será contabilizada para 2013. E ainda no final, em novembro de 2012, a presidenta da República através do FNDE lançou mais uma licitação de 8 mil ônibus para o Programa Caminho da Escola Rural que serão entregues para este ano de 2013. Em 2013, já iniciamos com uma carteira de 4 mil que sobrou do ano anterior mais 8 mil do Caminho da Escola Rural, como resultado são 12 mil ônibus, além de 800 ônibus para transporte de pessoas com necessidades especiais. Num mercado de 31 mil ônibus, já temos aí um caminho bom pela frente. Nós esperamos que 2013, com a manutenção do PSI 4 (Programa de Sustentação do Investimento), com a existência da desoneração das fabricantes e das empresas operadoras (cujo impacto deve ser muito grande pela quantidade de pessoas que empregam), tudo isso vai favorecer para que as empresas partam para comprar mais ônibus.
ADAMO BAZANI: E muitas cidades precisam dessa renovação e não precisa ir longe da capital para encontrar frotas velhas, como dos ônibus intermunicipais do ABC Paulista.
JOSÉ ANTÔNIO FERREIRA MARTINS: Tem ônibus nessa região com idades entre 12 e 15 anos. E não é só o segmento de urbanos. Se formos ver os ônibus interestaduais e internacionais, a idade da frota é de 9,8 anos de idade. As ações governamentais e da indústria estão sendo feitas de uma maneira que a gente possa melhorar todo esse sistema. O Governo criou agora, paralelamente a isso, o PAC Ferrovias e Rodovias, com 10 mil quilômetros de ferrovia e 7,5 mil quilômetros de rodovia, nessas rodovias fala-se na duplicação e concessão de novos modais, o que vai fazer com que as rodovias fiquem melhores, mais bem pavimentadas, vão dar mais velocidade comercial e com isso, haverá benefício no transporte coletivo também.
Este PAC Ferrovias e Rodovias que vai começar a partir do final deste ano, com mais as outras ações em andamento e o custo menor da energia elétrica vai reduzir o nosso custo geral e fortalecer nosso poder de competição. As alterações no câmbio também nos dão mais margem de competitividade.
Com menos custos, nossos clientes, os operadores de ônibus urbanos e rodoviários, também terão condições de comprar mais. O valor da desoneração vai poder ser empregado na compra e na remodelação da frota, que era uma coisa que eles precisavam, mas não esperavam.
ADAMO BAZANI: O que percebemos é que nunca o Governo Federal se envolveu tanto na questão da mobilidade urbana, setor há muito tempo esquecido por esta esfera de poder, cuja responsabilidade caía somente sobre as costas dos Estados e municípios. Claro que parte desse envolvimento se deu depois que o Brasil foi anunciado como sede de eventos internacionais que exigem modernização nas cidades, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Há o risco de depois de estes eventos passarem, a situação se reverter e diminuir novamente o compromisso do Governo Federal com a mobilidade urbana?
JOSÉ ANTÔNIO FERNANDES MARTINS: Acho que existe uma lei básica no mundo dos negócios de que o desenvolvimento chama desenvolvimento e retração chama retração. Na medida que nós criarmos uma infraestrutura para termos melhor mobilidade, o povo não vai aceitar uma redução dessa mobilidade e o governo não vai suportar com que a competitividade do sistema diminua porque se parou de investir. Os investimentos em mobilidade começam e não têm como parar. É uma escada que se vai subindo e não tem como descer. Se descer, destrói com todo o sistema urbano, com todo o sistema rodoviário. Eu vejo que todos estes investimentos que o Governo tá fazendo são apenas um princípio. O próprio presidente da EPL – Empresa de Planejamento e Logística, Bernardo Figueiredo, disse que as necessidades de investimentos em infraestrutura no Brasil hoje até 2016 seriam entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões. Acredito que o Governo vai investir nisso, o Governo vai perseguir estes números. Está se criando uma cultura de investimentos, uma cultura da mobilidade, a cultura de se poder viver num centro urbano de maneira civilizada. Hoje pessoas em São Paulo perdem quatro horas por dia em deslocamentos, a pessoa perde um mês por ano viajando. Isso é uma desumanidade e o povo não vai agüentar mais. Com estes investimentos, o Governo vai aumentar as velocidades comerciais, diminuir os congestionamentos, reduzir os acidentes, vai reduzir substancialmente a contaminação ambiental, o modo de vida vai melhorar em termos de saúde, stress e satisfação da população.
ADAMO BAZANI – A Mobilidade exige a participação de diversos agentes, como governos em diversas esferas, as empresas transportadoras e até a própria população. E a indústria de ônibus, pode ajudar em que nessa questão de mobilidade urbana?
JOSÉ ANTÔNIO FERNANDES MARTINS: A indústria brasileira de transporte por ônibus está preparada, não é de agora, temos anos e anos de luta e experiência que iniciamos no sentido de melhorar a qualidade, a performance, o conforto, resistência e até o design. Nosso produto ônibus é um dos melhores do mundo. Não ficamos devendo nada aos produtos europeus. Quando eu comecei a trabalhar com ônibus, há 47 anos, a gente se extasiava com o design e a qualidade dos ônibus da Alemanha, da Holanda, da Bélgica, na França. Hoje não mais. Hoje tem muita gente olhando os nossos produtos que têm qualidade e são feitos dentro de normas de redução de emissão de poluentes, segurança, durabilidade e conforto. Nossos ônibus estão enquadrados entre as melhores normas mundiais.
ADAMO BAZANI : Sabemos entretanto, que apesar de investimentos do Governo Federal e dos locais, ainda o Brasil convive com a realidade de estradas de terra, ruas esburacadas e pavimentação inadequada até mesmo em grandes cidades. Por conta disso, a indústria brasileira ainda tem de fazer produtos robustos, como ônibus de motor dianteiro. Como oferecer o maior conforto possível aos passageiros e motoristas nestes veículos mais rústicos?
JOSÉ ANTÔNIO FERNANDES MARTINS: O veículo robusto não tem nada a ver com conforto que é interno. Claro que o veículo robusto fica prejudicado no design, mas hoje em termos de conforto, segurança, itens como ar condicionado, ele funciona perfeitamente. Não podemos nos fixar apenas nos produtos de luxo. Sabemos que o Brasil é um país enorme. No Norte e Nordeste ainda temos muitas estradas de terra e nossos ônibus têm condições de prestar serviços nestes locais. Essa flexibilidade é que chama atenção no mercado internacional. A Europa não consegue fazer como nós veículos confortáveis e robustos ao mesmo tempo. Europeu não sabe o que é buraco. Nós produzimos um veículo que agüenta chuvas e trovoadas. Nosso ônibus é um veículo excelente para estradas ruins e estradas boas.
ADAMO BAZANI: A indústria de ônibus brasileira se prepara para uma eventual entrada de ônibus chineses no País?
JOSÉ ANTÔNIO FERNANDES MARTINS: Nós estamos preparados hoje para atender ao mercado brasileiro dentro das nossas necessidades, sabendo como os chineses atuam. Os chineses têm preços muito mais baixos do que os nossos, mas em termos de qualidade, resistência e performance, os nossos ônibus são muito melhores. E além de tudo nós temos estratégias de proteção. Nós da Marcopolo temos uma fábrica grande na Índia, em parceria com a Tata, onde produzimos 15 mil ônibus, temos também uma fábrica na China e que se houver uma penetração de chineses exagerada em nosso território por cobrarem preços mais baixos, vamos mandar para cá os ônibus que produzimos lá que é o mesmo preço que dos ônibus deles. Vamos importar os ônibus indianos e chineses das nossas fábricas, mas vamos mante4r o nosso mercado aqui sem sermos destruídos pelos chineses.
Publicado em 06/03/2013 por Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes. Blogpontodeonibus
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